Artigo Nº 85 – FACHADA RUIM DETURPA IMAGEM

Da janela de nosso escritório, há meses estamos acompanhando a reforma da agência do Correio de Curitiba. Milhões de reais estão sendo gastos, mas já estamos começando a ficar “preocupados”, pois a obra está chegando ao fim e, pelo que tudo indica, ninguém tomará a iniciativa de mandar rebocar a parede lateral do prédio, de tijolo cru, antiestética, e que é vista diariamente por milhares de pessoas que trabalham nos edifícios em volta.

Ao lado do meu escritório, há dois anos, uma cadeia de produtos importados reconstruiu antigas instalações de agência bancária para instalar sua loja de alto nível, mas deixou a parede lateral no mesmo estado, com reboco caindo. A poucas quadras dali, um hotel de três estrelas chama a atenção pela qualidade de sua aparência, mas quem vê o fundo do prédio imagina que ali dentro existe um cortiço, tão lastimável é a aparência.

Poderíamos citar outros exemplos mais, de empresas e entidades que se descuidam da conservação da lateral, dos fundos ou da parte de cima de suas edificações, como se tais áreas não fossem vistas por outras pessoas. O fato, fruto de mentalidade errada (socorro, sociologistas), contribui em muito para enfeiar o centro de nossas grandes cidades .

Curitiba certamente não é a única cidade onde só se dá importância à fachada principal ou à parte do prédio que é vista pelo maior número de pessoas. São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e tantas mais sofrem do mesmo problema.

Dinheiro há

Nos exemplos citados, temos certeza de que o problema não é a falta de dinheiro nem falha na manutenção, pois a agência do Correio, a loja de importados e o hotel gastaram verdadeira fortuna para terem instalações modernas e recepcionar bem seus clientes. Se não houve decisão estratégica (achar, por exemplo, que gasto com o visual externo não traz resultado), talvez seja falta de visão dos responsáveis pela reforma. Qualquer que seja a razão, o pouco caso dado à fachada menos nobre do edifício reflete, sim, na imagem-conceito que as pessoas fazem do estabelecimento. Os marquetólogos e publicitários que o digam.

Essa preocupação com o todo, com a integridade do conjunto arquitetônico, com a imagem que o edifício transmite a clientes e não-clientes, pode ser vista, por exemplo, em algumas cadeias comerciais de grande sucesso (C&A, Americanas, Pernambucanas etc.), que costumam cuidar de todos os lados de suas instalações físicas, estejam ou não aparentes ao público.

Também na área residencial, observa-se o mesmo fenômeno de negligência em relação à parte da casa que faz vista para os vizinhos. É comum observar casas belíssimas, bem conservadas, mas cujo proprietário não manda pintar a parede lateral externa, como se isso fosse obrigação de outrem. Alguns, não se dão ao trabalho nem de rebocar a parede, ou deixam-na sujeita, ano após ano, às intempéries. E depois ainda reclamam quando o imóvel perde preço no mercado, de venda ou locação.

Pequeno apelo    

A grande questão, caro leitor, é a seguinte: De onde surgiu essa nossa mentalidade de só zelar pela frente de nossos edifícios e quem deveria ser acionado para que haja um revertério nessa tendência? A quem apelar? Aos arquitetos, engenheiros, construtores e proprietários? Ou, como sempre, às autoridades (o Estado), para que imponha normas coercitivas, nem sempre do agrado de todos?

Como o âmbito desta coluna é limitado, fazemos apenas um pequeno apelo, dirigido aos arquitetos, engenheiros e construtores. Senhores, esta coluna foi escrita em homenagem a vocês, grandes responsáveis pela construção civil no Brasil. Por favor, ao planejarem, construírem, reformarem ou conservarem nossas edificações, não se esqueçam de destinar uma pequena parte de seu esforço para as paredes laterais, o fundo e o teto da obra. Vocês estarão colaborando com o sucesso de seus clientes e tornando mais bonitas nossas cidades.

Penhoradamente, agradecemos.

Luiz Fernando de Queiroz é autor do TPD-Direito Imobiliário e do Guia do Condomínio IOB, fone 041-224-2709 e fax 224-1156.