Artigo Nº 112 – PASSEIO DIGNO OU BOICOTE

Você entraria numa loja de shopping se na frente dela houvesse uma poça de água? Provavelmente não. Mas se  a poça de água estiver em frente a uma loja comum de rua, mesmo que seja um magazin de jóias ou produtos refinados, será que a sua reação seria a mesma? Ou você ficaria indiferente, porque a calçada em frente da loja não é problema do lojista?

Pois, então, caro leitor, comece a refazer seus conceitos. De hoje em diante, passe a encarar todas as lojas por onde você circula, de shopping ou rua,  com o mesmo critério, deixando de entrar no estabelecimento comercial, para fazer suas compras, se a calçada em frente dele estiver estragada, com pedras soltas, com água ou lama, ou de qualquer modo não condizente com o gabarito da loja onde você pretendia entrar.

Esta não é uma recomendação infundada, mas uma campanha nacional com caráter de boicote, que esta coluna está lançando hoje, visando preservar a saúde e a integridade física dos pedestres e, além disso, aumentar o lucro dos bons comerciantes, atentos a este detalhe importante, em detrimento dos mercadores que não consideram a calçada a rua em frente de sua loja como parte integrante de seu comércio.

Portanto, caro leitor e especialmente cara leitora, seja você um pioneiro dessa nossa campanha. Ao sair de casa para as compras, se não for ao shopping, preferindo o comércio de vizinhança ou de ruas abertas, dê preferência não apenas para quem atende bem e vende mais barato, mas também para quem mantém impecável a calçada que você utiliza para chegar e sair do local. Observe com atenção e verá que muitos estabelecimentos já demonstram esta preocupação, assumindo por conta própria manutenção do espaço público, que é de responsabilidade não da prefeitura, mas dos proprietários dos terrenos lindeiros.

Uma grande parte dos lojistas, entretanto, não cuidam e nem limpam a calçada, provavelmente porque vivem sob a velha mentalidade de que é de uso coletivo e que, por isso, todos devem pagar pela sua conservação, através de impostos. Tal pensamento nem do ponto de vista legal está correto, e muito menos sob o aspecto mercadológico moderno, que enfatiza cativar e encantar o cliente.

Afinal, caro leitor, é ou não é um incômodo você caminhar pelas calçadas com pedras soltas, mato crescendo, lâminas de água, buracos, ondulações, depressões e todo tipo de obstáculos e entraves que impedem um suave caminhar, sem necessidade de estarmos constantemente olhando para baixo para ver onde estamos pisando? Não seria muito mais produtivo e simpático termos calçadas que sejam um verdadeiro passeio (o termo parece que está ficando antiquado) e que incentivem o ato de caminhar?

Pois, então, é isso, prezado lojista. Se você leu esta matéria, já sabe do risco que está correndo. Milhares de pessoas também terão lido, milhões mais participarão do boicote quando esta idéia for colocada na pauta de reportagem das televisões e o que hoje talvez pareça uma obsessão ridícula poderá atingir seriamente os resultados de sua empresa. Lembre-se de que este boicote é silencioso. As pessoas não farão barricadas nem passeatas em frente de sua loja, exigindo que conserte a calçada, mas poderão dar à sua atividade mercantil o mesmo desprezo que você dá ao bem estar físico de seus clientes, pagando abandono com abandono.

Não está escrito na constituição federal que todo cidadão tem o direito de passear em calçadas lisas e uniformes. Mas aos poucos está fazendo parte de nossa cultura não aceitar mais serviços ruins, preços abusivos e, agora, calçadas mal cuidadas.

A sorte está lançada.
 
Luiz Fernando de Queiroz é autor do TPD-Direito Imobiliário e do Guia do Condomínio IOB, fone 041-224-2709 e fax 041-224-1156.